Passados cerca de 30 dias do início efetivo das obras dos novos avessos aquaviários do Complexo Portuário do Itajaí, a Triunfo Engenharia, empreiteira responsável pela obra, garante que os trabalhos seguem dentro do cronograma proposto. A primeira ação foi a retirada das pedras carapaças – que dão a sustentação ao molhe e impedem a ação das correntezas sobre a estrutura subaquática. Agora os trabalhos concentram-se na retirada dos núcleos, para que ainda na primeira quinzena de julho ocorra a retirada dos molhes transversais, também chamados de espigões. “As obras para reestruturação do canal de acesso e instalação da nova bacia de evolução estão em plena execução”, garante o supervisor da obra, engenheiro Alexandre Barbosa Marujo. Ele informa que em março a Secretaria de Estado de Infraestrutura autorizou a Triunfo a iniciar a mobilização, que compreendeu fechar o acesso ao molhe norte, de Navegantes, para limpeza e construção do canteiro de obras, transporte e montagem dos equipamentos – guindastes, escavadeiras, draga de sucção e recalque, caminhões fora de estrada e basculantes, flutuantes, embarcações e trator, entre outros – e contratação de mão de obra. Paralelo à retirada dos espigões, informa Gustavo Bassi, da Triunfo, será dada continuidade à montagem do canteiro de obras, com a instalação de mais escritórios, refeitório, vestiário, oficina e toda infraestrutura de apoio necessária ao andamento dos trabalhos. “Após a retirada das pedras, dos molhes transversais e da guia corrente, no Saco da Fazenda, devemos iniciar o aprofundamento do canal com dragagens”, disse Bassi. Hoje 80 pessoas, das empresas Triunfo, Prosul e Caruso Engenharia, atuam direta e indiretamente na obra. Número que deve chegar a 150 trabalhadores no auge da obra, daqui a cerca de seis meses. A conclusão da primeira etapa da obra deve ocorrer em 18 meses, contados a partir de junho. Já a segunda depende ainda da busca de recursos junto a União. Ação da Superintendência do Porto de Itajaí, junto a Bancada Catarinense, resultou na alocação de recursos da União no orçamento deste ano para a obra, com R$ 40 milhões já garantidos para 2016.“A nova bacia de evolução é a obra mais importante para a sustentabilidade do Porto de Itajaí em médio e longo prazo. Temos que estar preparados para atender a demanda dos armadores, que colocam navios cada vez maiores para servir seus principais mercados - entre eles, o Brasil, que representa o maior volume do comércio exterior da América do Sul", diz o superintendente da APM Terminals Itajaí, Ricardo Arten. O projetoA obra dos novos acessos aquaviários ao Complexo Portuário engloba a construção de uma bacia de manobras nas proximidades da foz do rio Itajaí-Açu, em frente à Bahia Afonso Wippel (Saco da Fazenda). Na primeira etapa serão investidos R$ 104 milhões pelo Governo do Estado. As obras englobam o alargamento do canal e parte da nova bacia de evolução, com 480 metros de diâmetro, que vai possibilitar operações com navios de até 336 metros de comprimento, com 48 de boca. Hoje o Complexo está limitado a operar navios de 306 metros, o que faz com que o Porto de Itajaí e demais terminais que formam o Complexo percam mercado com o constante aumento no tamanho dos navios que trafegam na costa brasileira.A segunda etapa das obras, estimada em cerca de R$ 208 milhões, vai garantir ao Complexo uma bacia de 530 metros de diâmetro, com capacidade para operar navios de até 366 metros de comprimento e 51 metros de boca. Essa etapa também prevê a realocação do molhe norte, possibilitando que o canal de acesso fique com a largura de 220 metros.A obra também vai minimizar o impacto das enchentes da Bacia Hidrográfica do Itajaí, uma vez que o alargamento e aprofundamento da Foz proporcionará o aumento na vazão na foz.“A nova bacia de evolução e a readequação dos acessos vai possibilitar que recebamos navios de ultima geração e que possamos dar continuidade ao crescimento de nossa região, fazendo com que Itajaí volte a apresentar o maior Produto Interno Bruto (PIB) do Estado e Navegantes continue sendo o município com maior índice de crescimento”, diz o superintendente do Porto de Itajaí, engenheiro Antonio Ayres dos Santos Júnior. Ele destaca a importância da obra não apenas para a economia regional, mas para o crescimento do comércio internacional catarinense e brasileiro com o um todo.Hoje já trafegam no planeta navios com até 395 metros de comprimento e, na costa brasileira, navios com até 334 metros. A tendência é de que esses navios de maior porte logo cheguem ao Brasil. Caso os portos não se adaptem, não receberão navios dessas novas gerações.“Se atualmente alguns portos brasileiros têm condições operacionais para receber navios de 336 metros de comprimento, talvez em menos de dois anos tenhamos navios dessas dimensões, que comportam 12 mil TEUs (Twenty-foot Equivalent Unit – unidade internacional equivalente a um contêiner de 20 pes), também chamados de Novo Panamax, uma vez que este é o tamanho máximo de navio a cruzar o Canal do Panamá desde de 2015”, acrescenta Ayres. Conheça o casoA demanda por novos acessos aquaviários surgiu com o aumento dos tamanhos dos navios, que é uma realidade no mercado da navegação. As empresas armadoras estão aumentando o tamanho das embarcações, para transportar maiores volumes de cargas por escalas e reduzir custos operacionais. Constatada essa realidade, os estudos para a contratação da obra iniciaram em 2010, com a revisão do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) do Porto de Itajaí. Na ocasião os terminais APM Terminals e Portonave contrataram empresa holandesa Arcadis para a elaboração dos primeiros estudos para a implantação de uma nova bacia de evolução.Foram estudadas quatro possibilidade de local para a nova bacia. A primeira previa sua implantação próxima a atual bacia. A vantagem era a proximidade dos berços e, as desvantagens, o pouco espaço para manobras e a falta de distância segura dos navios que estivessem atracados nos berços 01 de Itajaí e de Navegantes. A segunda possibilidade era a instalação da bacia de evolução a montante do Porto. As vantagens eram que não haveria a necessidade de manobras de ré e que teria uma área dedicada exclusivamente para as manobras dos navios. Mas as desvantagens eram maiores: acesso estreito, padrão de descarga do rio desfavorável e o pouco espaço para as manobras dos rebocadores.Descartadas as possibilidades anteriores, a opção ideal pareceu ser instalar a nova bacia na altura do bairro São Pedro (Navegantes), defronte a Delegacia da Capitania dos Portos de Itajaí. A escolha do local para a ampliação foi feita após a realização de 32 simulações, para que os especialistas apontassem o local como o de menor impacto socioambiental. Foram levadas em conta as características das correntes marinhas, da profundidade, da salinidade do rio Itajaí, entre outros aspectos naturais. A proximidade dos berços, a possibilidade de operação independente das condições climáticas e a correnteza no mesmo sentido do giro do navio contatam a favor, embora o local também apresentasse pequena margem de segurança para navios atracados nos berços 01 da Portonave e APMT e pouco espaço para a manobra dos rebocadores.Mesmo com as limitações apresentadas, essa opção pareceu ainda a mais viável. Porém, para que a obra fosse executada nesse local, haveria a necessidade de muitas desapropriações e na margem direita, além da relocação do píer da Capitania dos Portos. Mesmo assim, em 2013 práticos foram para a Holanda para fazer as manobra que seriam realizadas após a obra pronta em simuladores, pois os navios precisariam entrar de ré nos terminais e em março do mesmo ano retornaram com a resposta de que os procedimentos eram viáveis e seguros.A partir daí foi contratada empresa especializada para sair a campo para levantar a área a ser desapropriada e o número de famílias que deveriam ser indenizadas e relocadas. Após esse estudo verificou-se que o número de famílias, que estimava-se ser de aproximadamente 90, já estava em mais de 300. Isso demandaria custos muito elevados, além de ser um processo extremamente difícil e demorado, o que inviabilizaria a obra. Após esse impasse, surgiu uma ponderação da Praticagem, argumentando que uma vez que as manobras a ré se mostravam viáveis, porque não se fazer a obra mais a jusante. Foi quando surgiu a possibilidade da instalação da nova bacia próxima a foz do rio Itajaí-Açu, em frente à Bahia Afonso Wippel (Saco da Fazenda). Após novas simulações e testes, que garantiram a segurança das operações, foi concluída a fase de estudos e iniciado o projeto executivo, bem como contratada empresa para a elaboração do EIA Rima, para o posterior licenciamento ambiental. “O local oferece maior segurança às manobras e apresenta um custo de implementação significativamente menor, uma vez que praticamente não tem áreas a serem desapropriadas”, explica o diretor Técnico do Porto de Itajaí, André Pimentel. Impasses burocráticos emperraram o processoA audiência pública sobre o projeto de reestruturação do canal de acesso e da nova bacia de evolução do rio Itajaí-Açu foi realizada em dezembro de 2013 e em pouco tempo foi emitida a Licença Ambiental Prévia - LAP. Cumprida essa etapa, o Governo do Estado e a Superintendência do Porto de Itajaí assinaram, em setembro de 2014, um Termo de Cooperação para que fosse lançado o edital de concorrência pública. A projeção inicial era de que as obras fossem iniciadas até janeiro de 2015. Cumpridos os prazos legais, foi declarada vencedora da concorrência pública a empresa Triunfo Engenharia. A ordem de serviço foi assinada pelo governador Raimundo Colombo em março de 2015. A partir daí a empresa contratada elaborou o projeto executivo no prazo contratual de 90 dias. Com o projeto concluído foi contratada a empresa para a realização do projeto para a obtenção da Licença Ambiental de Instalação (LAI), que foi expedida em dezembro de 2015. No entanto, paralelamente e conforme determina a lei, foi licitada uma empresa para fazer a fiscalização das obras. Decorrido o tempo de estudos e elaboração do edital, o mesmo foi publicado em dezembro do ano passado. Porém, uma das nove empresas participantes entrou com recurso e acabou emperrando o processo, que somente foi concluído em maio deste ano. A empresa Prosul, de Florianópolis, venceu a licitação e contrato foi assinado pelo Governo do Estado somente em junho. Essa era a definição que faltava para a Triunfo dar início efetivo aos trabalhos da primeira etapa. “Este investimento é necessário para que a região continue avançando, já que se constitui na mais importante de Santa Catarina na movimentação de contêineres atualmente e com grande potencial de crescimento. A conclusão desta obra irá permitir a atração de novas linhas de navegação, manter os terminais aqui localizados competitivos, fomentar a economia e gerar empregos”, explica o diretor-superintendente administrativo da Portonave, Osmari de Castilho Ribas.
Fonte: Revista Portuária - Economia & Negócios