Apresentado relatório sobre casco soçobrado do navio Pallas.
Encontro aconteceu no Auditório da Superintendência do Porto de Itajaí e reuniu historiadores, imprensa e demais autoridades.
Na tarde desta quarta-feira, 11, aconteceu no Auditório da Superintendência do Porto de Itajaí, uma apresentação sobre o relatório do casco soçobrado do navio Pallas.
Inicialmente o objetivo do encontro teve como finalidade resgatar a história da embarcação naufragada em 1893 na Foz do Rio Itajaí Açu e dar esclarecimentos maiores sobre como e de que forma este navio naufragou.
Paralelamente a este episódio histórico, coube a Superintendência do Porto de Itajaí informar a todos sobre a não interferência das obras dos Novos Acessos Aquaviários do Complexo Portuário de Itajaí, denominada por “Bacia de Evolução”.
O encontro foi mediado pelo Diretor do Campus da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) de Balneário Piçarras e Diretor de Museus, Professor Jules Marcelo Rosa Soto e também pelo Superintendente do Porto de Itajaí, Engº Marcelo Werner Salles.
Com base na memória histórica de Itajaí e do município vizinho de Navegantes, o navio Pallas foi uma embarcação fabricada em 1891 na Inglaterra e posteriormente passou a ser incorporado a navegação em correntes marítimas do Brasil no mesmo ano.
O Pallas, de acordo com documentos da época, cita que a embarcação naufragou há cerca de 125 anos, em 25 de outubro de 1893, no Canal da Barra do Porto de Itajaí, próximo a praia de Navegantes.
Há relatos históricos e já comprovados de que o navio Pallas era um navio de cargas diversas, em geral frigorificadas, e no Porto de Itajaí, na época, fazia operações de embarque de carvão. De acordo com os historiadores, teria sido utilizado durante o período da chamada “Revolta Armada”, que retrata um movimento de rebelião promovido por unidades da Marinha do Brasil contra governos da República Brasileira.
Em busca de informações durante este período, chegou-se à conclusão de que sua participação no conflito foi meramente discreta, havendo apenas os serviços de navegação de cargas e relatos informam que não existem provas de que tenha recebido adaptações para entrar em combate.
Em um de seus trajetos marítimos, tinha como linha Rio de Janeiro – Buenos Aires (Argentina) e escala no Porto de Itajaí, e ao se deslocar rumo ao Porto de Itajaí, teria naufragado na praia de Navegantes, quando na época, ainda não havia o molhe norte que dá acesso ao complexo portuário. Relatos históricos informam que não houveram vítimas pós naufrágio e todos os tripulantes foram conduzidos para solo terrestre.
Em agosto do ano passado, ocorreram indícios de que os serviços de dragagem que estavam sendo realizados ao longo do canal de acesso ao complexo portuário, estariam sendo paralisados pelo motivo da Draga chinesa que fazia o restabelecimento pelos 14 metros de profundidade no Rio Itajaí Açu, ter tocado o casco soçobrado do navio.
Para conhecimento de todos, coube a Autoridade Portuária, Superintendência do Porto de Itajaí, informar que não teria sido a draga chinesa que possivelmente tocou o casco do navio, e sim uma draga de porte pequeno que faz os serviços de sucção e recalque e que estava operando nas margens fora do canal de acesso e dessa forma aumentava as dimensões para a implantação da bacia.
Imediatamente a Superintendência do Porto de Itajaí tomou conhecimento e na época reuniram-se na sede da Secretaria de Estado da Infraestrutura (SEI), com representantes das construtoras responsáveis pelas obras, Triunfo e Prosul, para tratar do assunto e fazer uma prospecção relacionado à descoberta de objetos submersos encontrados (madeira e restos metálicos) nas obras da primeira etapa da Bacia de Evolução. Engenheiros e Técnicos da secretaria de Estado elaboraram um cronograma de serviços de dragagem no entorno onde poderiam haver indícios do navio e mergulhadores profissionais analisaram vestígios encontrados. Uma sondagem do local foi feita por mergulhadores e a Superintendência do Porto de Itajaí interrompeu os trabalhos por um breve período, para então iniciar os trâmites para uma contratação de uma empresa de mergulho.
No decorrer dos meses, a Superintendência do Porto de Itajaí manteve a preocupação em acompanhar de fato a descoberta do navio e ao mesmo tempo continuar as obras. Destaca-se o acompanhamento também na época da Fundação Genésio Miranda Lins (FGML) em que pesquisadores e historiadores que estavam associando o naufrágio do navio Pallas, pudessem contribuir e chegar a uma análise concreta dos fatos.
Adiante, a Superintendência do Porto de Itajaí fez uma solicitação, não remunerada e não contratual, junto aos conhecimentos técnicos e profissionais da equipe do Diretor do Campus da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) de Balneário Piçarras e Diretor de Museus, Professor Jules Marcelo Rosa Soto, que prontamente acatou o desafio.
“Estamos em sintonia com a Delegacia da Capitania dos Portos de Itajaí (Marinha do Brasil), pois a mesma está nos orientando e nos dando todo o suporte para que esta situação de fato possa chegar a uma conclusão positiva para o resgate e memória histórica de Itajaí e Navegantes, assim como para o Brasil. Fizemos um estudo cuidadoso para não interferir nas obras da Bacia de Evolução e com isso projetamos uma distância precisa num raio de até 490 metros e efetivamente não se aproximar do casco do navio. Nossa intenção também é dar segurança de navegabilidade ao complexo portuário”, destacou o Superintendente do Porto de Itajaí, Engº Marcelo Werner Salles.
Em meses de estudo, foram realizados trabalhos intensos em busca de dados históricos do navio e toda a origem de seu naufrágio. Equipes buscaram por informações no Arquivo e Museu Histórico de Itajaí, Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), arquivos do Tribunal Marítimo junto aos Arquivos Lloyds Register, entre outros locais.
A localização exata do naufrágio (soçobro) fica na parte interna da Foz do Rio Itajaí Açu, no molhe norte, área está com baixíssima visibilidade, fundo lamoso, água contaminada, correntes e intenso fluxo de embarcações de grande porte (navios de contêineres).
Com as licenças obtidas por parte da Marinha do Brasil, e após o serviço dos mergulhadores, constatou-se de fato que havia no local um casco soçobrado com aproximadamente 110 metros de comprimento.
Para surpresa de muitos, estudos mais precisos e buscas por profissionais da área, chegaram ao resultado que a embarcação não teria esta metragem entre proa e popa, e sim, 67 metros de comprimento. Essa descoberta se deu devido ao formato do navio e pelos restos encontrados, de acordo com fotografias atuais, sendo uma embarcação do tipo PAQUETE, navios utilizados na virada do século XIX para XX (navio multifuncional para passageiros, cargas e correios), movidos a vapor. As comparações com os dados de classificação da embarcação com os dados obtidos pelo mergulho de inspeção, há uma grande diferença no tamanho do casco, pois o “arco de proa” estaria afastado cerca de 40 metros do “espelho de popa”, ou seja, no ponto de vista dos resultados, o navio estaria partido ao meio.
Outra informação apurada que comprovaria seu tamanho de casco, destaca-se que igual ao modelo da planta do Pallas, outros seis navios foram construídos pelo mesmo fabricante (A. Leslie and Company/R. and W. Hawthorn), e apresentavam a mesma metragem de 67 metros.
Aprofundando os conhecimentos gerais da embarcação, sabe-se atualmente que de fato trata-se do navio Pallas. Poucas provas comprovam, mas em tese quanto ao resultado dos pesquisadores, até mesmo um documento, que na verdade é uma Carta Náutica do Canal da Barra e Porto de Itajaí, que consta sinalizado o Pallas, certificada pela Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais de 1923.
Passados os anos, os resultados atuais destacam que o navio (casco soçobrado) está dividido em duas partes, afastados cerca de 40 metros uma da outra, em local já divulgado. Para dar continuidade aos serviços de resgate histórico do Pallas, conclui-se na fase deste projeto que se recomenda a possibilidade de retirada e preservação de estruturas que sejam reconhecíveis e de valores ornamentais como hélice, âncora, arco de proa, placa do estaleiro, entre outros objetos, caso sejam encontrados.
A equipe de estudos deste projeto incentiva e recomenda a utilização dos objetos para serem expostos num museu naval da cidade ou arquivo histórico.
“Existe este fato histórico do casco soçobrado do Pallas e vamos buscar juntos a melhor solução para a cidade de Itajaí, buscando algo que possa ser preservado. Próximo passo agora é aguardar documentos do Lloyds, na Inglaterra como os planos de linhas do navio e posso afirmar que 95% do que teria que ser feito já foi realizado. Para a retirada do casco e demais objetos que podem ser retirados irá depender da empresa responsável que poderá fazer todo o processo de retirada do que restou, mas não é fácil, pois envolve um amplo estudo de engenharia e é complexo”, concluiu o Professor Jules Marcelo Rosa Soto.
Também participaram do encontro membros da Superintendência do Porto de Itajaí, Prefeitura Municipal de Navegantes, Triunfo e Prosul, Fundação Genésio Miranda Lins, Portonave, Univali, Câmara de Vereadores de Itajaí, Historiadores de Itajaí e imprensa.
Autor: Luciano Sens